19 de nov. de 2014

Cada um com seu quadrado

    Eu falei que logo eu voltava, né?  Cá estou eu!
    E para começar, ou melhor, recomeçar, vou falar um pouquinho sobre diferenças, utilizando dois exemplos que tive a oportunidade de presenciar.

    De um lado, um menino elétrico! Super ativo, brincava o tempo inteiro, quando assistia um filme era metade em pé, metade sentado. Na escola, não parava quieto dentro da sala de aula e as conversas eram constantes. Apesar disso, seu desenvolvimento era super saudável e sua aprendizagem escolar, apesar da agitação atrapalhar um pouco, era normal.

    Por outro lado, uma garotinha
tranquila demais! Sempre obedecia aos pais, quase nunca retrucava, ficava horas sentada brincando com seus brinquedos. Na escola as vezes se isolava e brincava sozinha, frequentemente perdia a concentração durante uma atividade, mas também apresentava desenvolvimento saudável e acompanhava o ritmo das aulas como os outros alunos.

    Em ambos os casos as mães foram chamadas para conversar com professoras e diretoras nas respectivas escolas. Foram orientadas a realizarem uma avaliação com seus filhos, pois estavam apresentando comportamentos fora do padrão e, possivelmente, dificuldades escolares. E foi o que os pais fizeram.

    O que aconteceu foi que o menino apresentou TDHA e logo orientaram pais e professores a como lidar com esta situação, indicando a medicação junto com o acompanhamento psicoterápico (neste caso, terapia e psicomotricidade). No segundo caso, na avaliação da menina não detectou-se nenhuma dificuldade, transtorno ou algo do gênero. Perceberam que simplesmente este era o seu padrão de funcionamento. Família e, principalmente, escola foram orientadas a respeitarem seu ritmo, mas sem deixar de estimular.

 
   O interessante foi que em ambos os casos, percebeu-se que o padrão de funcionamento familiar também influenciava muito no comportamento das duas crianças. A família do menino era bastante agitada também, principalmente sua mãe; bastante expressivos, brincalhões e falavam alto, daquelas famílias que geralmente chamamos de "típica italiana". Já a família da menina, eram muito mais calmos; pai e mãe sempre serenos, com movimentos tranquilos e até as conversas em alguns momentos eram difíceis por conta do tom da voz.

    O que eu quero dizer com tudo isso??
    Já falei algumas vezes sobre a parceria (que ainda é bastante difícil) que é preciso existir entre escola e família. As vezes conhecer um pouco mais da família, trazer os pais para atividades escolares, permitir-se participar da vida escolar do filho, pode esclarecer facilmente algumas questões. Outro ponto, e acho que o principal, é que devemos cuidar com rotulações, pré-conceitos. Não existe um padrão de funcionamento comum para todas as crianças; cada uma possui seu ritmo, sua personalidade e particularidades; cada uma nasceu com uma cultura familiar diferente da outra e isso irá influencia significativamente em seu comportamento. Claro que as avaliações são importantes, como vimos no exemplo do menino, mas nem sempre um determinado comportamento quer dizer sinal de algum transtorno ou algo mais sério.

    Nos tempos de generalização, globalização, padronização, classificação e muitos mais "ãos", precisamos lembrar que vivemos em sociedade sim, mas cada um com seu quadrado.

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