19 de jun. de 2013

A proteção que não protege

    Vocês sabiam que os conceitos de criança e adolescente nasceram da vertente econômica, após a Primeira Revolução Industrial na Europa? Até então, crianças eram consideradas "gente pequena" e sujeitas a trabalhos pesados; apenas as crianças das classes mais altas eram educadas para serem herdeiras da fortuna da família. Com o avanço da tecnologia, surgiu a necessidade de uma mão de obra mais qualificada para manusear equipamentos complexos que surgiram nas indústrias e, com isso, houve uma grande preocupação em relação à educação e ao crescimento saudável de crianças e jovens. Graças aos estudos e descobertas da pediatria, psicologia e pedagogia, esses conceitos ganharam contornos mais complexos e delicados. Com eles, também surgiu uma rede de proteção, preservando a integridade física e mental dos menores, e as famílias começaram a cuidar mais da saúde e educação dos seus filhos, gerando pais mais zelosos.

    Mas por que estou falando sobre isso?

   Acontece que, em um mundo
tão cheio de perigos, violências, acidentes, drogas, surgem também os pais assustados e, como consequência, superprotetores, que se perderam no limite entre a preocupação aceitável e a excessiva. O bebê só pode ser cuidado por uma única pessoa, o filho não pode brincar sozinho de maneira espontânea em um parquinho, ir sozinho na padaria da esquina é inadmissível, a escola é cobrada por conta da nota baixa do aluno, passeios ou acampamentos escolares estão fora de cogitação, a mãe leva o livro esquecido até a escola, o adolescente não pode fazer trabalhos escolares na casa dos amigos, passeios do adolescente se baseiam em shoppings, com a mãe levando e buscando... Essas são algumas das inúmeras situações que podemos encontrar nas famílias.

   Além do medo sobre o "mundo lá fora", existe uma pressão da sociedade para que os pais não errem e gerem filhos exemplares, criando um medo de serem julgados por amigos ou parentes. A insegurança e a ansiedade também tomam conta destes pais; muitas vezes por serem filhos únicos, muito desejados ou por qualquer outro motivo, os pais temem que seus filhos deixem de amá-los caso haja alguma punição ou frustração.

   Mas saibam que um mundo sem riscos ou decepções, onde se tem tudo ao alcance, pode amputar uma parte do desenvolvimento infantil essencial para o crescimento: a autonomia, a capacidade de fazer escolhas!  A conquista por sua independência, desde o bebê escolhendo dar os primeiros passos sozinhos até o jovem escolhendo a sua profissão, faz parte do desenvolvimento humano.
 
Uma criança que cresce em uma bolha, longe das dificuldades e adversidades da vida, cresce acreditando que os outros resolverão todos os seus problemas, a falta de responsabilidades irá prejudicar a autodisciplina e a autoconfiança. Quando jovem, torna-se inseguro e frustra-se facilmente e quando adulto, terá dificuldades para se adequar às exigências de mercado de trabalho, por exemplo.

 
 Mas como proporcionar essa liberdade em um mundo como o que vivemos?

   Antes de tudo é preciso entender que a criança precisa explorar todo o mundo que existe a sua volta e isso se fará com total observação de seus pais, proporcionando a integridade física principalmente. Mas é preciso deixar que experimente, que viva o momento. Já comentei inúmeras vezes a importância da brincadeira, da descoberta, da interação com outras pessoas. O cair de joelhos, o bater a cabeça, o se sujar, o brigar com o outro por um brinquedo, o não ter aquele doce, o ter que esperar a sua vez... Esses são exemplos de situações em que a criança desenvolve habilidades essenciais como conhecer seus limites, lidar com frustração, reconhecer o lugar do outro, entre outras.

   Já com os mais velhos, os pais podem exercer este cuidado através de orientações. Ele não precisa ser proibido de andar de bicicleta na praça, basta orientá-lo sobre o trânsito, sobre não conversar com estranhos, sobre até onde ele pode ir. Ela não precisa ser proibida de sair com os amigos, mas é preciso dialogar e orientá-la sobre drogas, bebidas alcoólicas, sexo seguro. Ele pode participar de passeios escolares ou acampamentos, se orientado a sempre de seguir as regras de segurança impostas pela própria instituição, a cuidar de suas coisas e de não ter vergonha de pedir ajuda. Uso essas situações como exemplos!

   É preciso prepará-los para a vida, para serem independentes, para seguirem seus caminhos e escolhas de modo saudável. Eles irão tropeçar e cair, irão errar e se frustrar, mas terão a sensação de vitória e autoconfiança, e é com isso que irão se fortalecer.

    

   



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