22 de abr. de 2013

Crianças nota 10

    Qual é o pai que não deseja que seu filho assuma a empresa da família no futuro e que se torne um ótimo executivo? Qual é a mãe que não deseja ver a filha com uma carreira maravilhosa e bem sucedida? Não importa a área ou a profissão, mas acredito que o desejo da maioria dos pais é que seus filhos sejam pessoas de destaque em nossa sociedade; ou ainda,
que seus filhos tenham ou sejam tudo aquilo que os pais não puderam no passado. Estou errada?

    Aulas de inglês, natação, balé, estimulação artística, piano, reforço escolar e muitas outras atividades são frequentadas por crianças de 3 anos ou até mais novas. Já escrevi anteriormente sobre a importância da estimulação no bebê, principalmente nos 2 primeiros anos de vida; estimulação esta que começa desde o toque entre cuidador e bebê, estimulando a função cerebral responsável pela sensibilidade, e vai até brincadeiras mais estimulantes e desafiadoras de acordo com sua idade e desenvolvimento; o processo de crescimento do cérebro passa por toda a infância e segue até a vida adulta.

        A criança até os 7 anos de idade aprende muito através da interação com os objetos e com as pessoas, com as brincadeiras de faz de conta, com histórias infantis; seu desenvolvimento físico está em pleno vapor, o vocabulário ampliando cada vez mais, a noção de tempo e causalidade surgem e, principalmente, ela começa a ter noção de "eu", a diferenciar-se do outro e a reconhecer seus limites. Tudo isso e muito mais se dá de forma gradual, de acordo com a maturidade e desenvolvimento individual.

    Até aqui, tudo bem... O problema é quando cobranças exageradas começam a aparecer, etapas do desenvolvimento físico, cognitivo e emocional passam a ser puladas em função da espera do melhor desempenho da criança. 

    Aprender, em qualquer época, significa lidar com situações de tensão para poder aprender com elas. O que vem acontecendo é que, com a capacidade ainda imatura para enfrentar situações de grande exigência, a criança está experimentando altos índices de tensão incompatíveis com sua idade  e desenvolvendo sintomas, doenças, ou seja, o estresse infantil. A criança é pressionada a levantar, se alimentar de maneira rápida, correr para a escola, as notas mais altas da sala precisam ser delas, é preciso ser o melhor nadador da turma, horas e horas de ensaio no balé ou no treino de futebol são rotineiras, dias lotados de atividades... Excessos de horários e obrigações impostas à criança podem se tornar grandes geradores de estresse.

    A cobrança exagerada pode causar efeito ao contrário nos estudos, pois a criança tem um limite de resiliência e pode desenvolver desinteresse pelo processo de aprendizagem e resistência; problemas físicos (dores, vômitos) e psíquicos (ansiedade, agressividade, baixa autoestima) também podem surgir com o tempo; a cobrança extrema também pode influenciar na formação de caráter do seu filho.

  Todo e qualquer aprendizado precisa ser prazeroso! Se a criança gosta das atividades que participa, se não há reclamações antes, durante ou depois de alguma aula, se não existe sentimento de competição exagerado ou se o  processo de aprendizagem na escola está dentro dos padrões esperado para sua idade, não há mal nenhum. Pelo contrário, a criança está sendo estimulada adequadamente desde pequena e se desenvolvendo em diversas áreas. 

    Mas é preciso estar atento e deixar que seu filho tenha tempo também para brincar pelo prazer de brincar! É preciso que a criança tenha tempo para descontração, principalmente com os pais, irmãos ou amigos. Saibam que através do simples brincar livremente a criança também desenvolve diversas habilidades e competências que serão essenciais na sua vida adulta, tais como: reconhecimento do lugar do outro, responsabilidade por seus atos, raciocínio lógico e matemático, criatividade, capacidade de diálogo, memória e concentração, entre muitas outras mais. Saibam também que é possível cobrar sem traumas: basta valorizar cada conquista, incentivar novas descobertas, dizer que acredita que ele vai conseguir, construir um conhecimento juntos através das relações no dia a dia.

    Marcos Meier, no seu livro Sapatos e Letras, escreve o seguinte trecho:
    "Na Psicologia, sabemos que a constância da nossa relação com os filhos produz neles a qualidade emocional necessária para enfrentar a vida e suas dificuldades. É nessa interação de qualidade que auxiliamos nossos filhos a desenvolver segurança emocional, resistência a frustrações, tranquilidade nos conflitos e, o que é principal, uma autoestima suficientemente adequada para não vacilar diante das pressões sociais, para não ficar inseguro diante dos conflitos que a vida propõe. Autoestima saudável dá a nossos filhos a real dimensão do valor que eles têm e do potencial que está à disposição deles na hora de enfrentar novos desafios. Uma autoestima que lhes permita acreditar que é possível ser significativo nessa sociedade."


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